O que as redes sociais poderiam ter sido?

Em janeiro de 2004, nascia o Orkut.

Para participar, era necessário convite, como na maçonaria ou no Clubhouse. Foram algumas semanas até a plataforma pegar no Brasil.

Em 2004, o blog era a principal ferramenta de diálogo – de um jeito descentralizado e fragmentado. Com o Orkut, houve uma expectativa para que a conversa evoluísse. Na prática, a maior parte das comunidades se tornaram rótulos de identidade: quem entrava em “Eu odeio acordar cedo” dificilmente articulava formas de driblar o sono e despertar em outros ciclos, por exemplo.

Algo deu errado nesses 20 anos que separam a criação do Orkut e a tal “plataformização” dos conteúdos por meio de algoritmos.

Também havia um certo “temor” diante do volume de brasileiros na rede (“isso aqui vai virar uma baderna igual ao Fotolog”). Bons tempos.

Engajar é diferente de curtir

Há tempos fico incomodado com o uso do termo “engajamento”.

Grosso modo, é uma ideia simplória (pessoas que se conectam ao que eu faço) associada a uma métrica questionável, que beira a vaidade.

Para desenvolver: há um comportamento comum a quem se conecta a perfis que compartilham conteúdo, seja qual for o intuito – normalmente, construir uma comunidade e capitalizar por meio dela.

É uma jornada que começa a partir da aderência simples ao perfil com a ideia. Nessa etapa, não há, exatamente, “engajamento”. É uma aderência nem sempre pautada pela construção prévia de um desejo.

É uma caminhada fácil e rápida: não é preciso pensar muito para fazer parte.

O ponto é esse: não é preciso pensar muito. É um comportamento que beira o entretenimento. Ou o reforço ao viés de confirmação.

Isso ainda não é “engajar”. A diferença está na ação que esse perfil “lurker” pode fazer após se juntar.

É nesse lugar que as fórmulas de lançamento ou as convocações para acampar na frente do quartel pleiteiam pelo resultado real.